Frank e o Amor - Uma Busca pela Identidade Cultural
Em 2019, eu fiz a resenha deste livro que nos foi enviado pela editora Companhia da Letras.
O título original em inglês deste livro, cujo autor é coreano-americano, é um trocadilho que infelizmente no português não faria sentido – Frankly in Love, que na tradução literal seria “Francamente Apaixonado”, na verdade faz alusão ao nome do protagonista, o Frank. Então, a versão brasileira, foi rebatizada de "Frank e o Amor".
Frank é um menino americano de etnia coreana. Como ele existem milhares, não só nos Estados Unidos, mas em vários países do mundo. Após a Guerra da Coreia, que terminou em 1953 e até a década de 80, a Coreia não era a potência que é hoje. Pelo contrário. Era um país, no início arrasado pela guerra e depois com muita dificuldade em se reerguer.
O sucesso econômico atual do país veio de ações que começaram na década de 60, com a prática de reformas econômicas com ênfase na exportação e o desenvolvimento da indústria. O governo também promoveu uma reforma financeira, ajustando as instituições, e introduziu planos econômicos flexíveis. Porém, os resultados só começaram a aparecer na década de 90, razão pela qual nestas 3 décadas houve um grande êxodo de coreanos para os Estados Unidos, Canadá, Rússia, e até para o Brasil.
Mas o povo coreano, como quase todos os povos milenares, perpetuou sua cultura, mesmo vivendo em outros países. Assim como os pais de Frank nos Estados Unidos, que falam pouco inglês, aqui no Brasil, na comunidade coreana de São Paulo, ainda vemos pessoas de idade avançada que nunca aprenderam o português. Além disso os coreanos preservam outros aspectos de sua cultura como a culinária, a música, e posteriormente, graças à globalização, até no entretenimento.
Outro costume que era seguido fielmente até bem pouco tempo (e talvez ainda seja para algumas famílias) é o fato dos coreanos casarem sempre com outros coreanos. Talvez num instinto de preservação da identidade, tão machucada pelos anos de dominação japonesa.
A estória de Frank é a verdadeira história de muitos dos filhos destes imigrantes que nascem e crescem noutro país e de repente se veem nessa crise de identidade. Talvez a ficção se misture à realidade e muito do que o Frank enfrenta na história tenha sido realmente vivenciado pelo autor, David Yoon.
Frank é americano, e por isso fala inglês fluentemente e muito pouco coreano. Parece estranho, mas eu já conheci famílias de coreanos aqui no Brasil cujos filhos não falam o idioma. Mas também já conheci filhos de brasileiros no exterior que não falam português. Pessoalmente, eu acho muito estranho. Penso que se vivesse no exterior, em casa, falaríamos apenas português. Mas a gente nunca pode julgar a vida de outra pessoa, provavelmente, eles tem seus motivos. O livro fala de outras famílias da comunidade coreana onde vive Frank e há alguns filhos que dominam o idioma (como a Joy Song) e outros não.
Então é nesse cenário que se passa a estória. Frank vive somente com os pais (pois a irmã já foi para a faculdade), frequenta o ensino médio numa escola regular americana, tem amigos americanos, mas também tem contato com alguns jovens coreanos da comunidade (que se auto denominam de “limbos”, justamente por não saberem onde se encaixam) que seus pais frequentam.
Foi muito gostoso acompanhar a vida e as reflexões do Frank. Mesmo para mim, que sou mais velha. Eu estudei nos Estados Unidos na juventude, então, teve muita coisa com as quais eu consegui me relacionar. E mesmo quando a gente fica mais velha, a gente não esquece do que sentiu quando era adolescente, então, também não foi difícil se identificar com o Frank e a sua trajetória.
Como tem muita alusão à cultura coreana, eu creio que os leitores do Koreaplus vão realmente AMAR este livro. E a galera mais jovem, vai perceber que o que ele passa, todo mundo passa nesta época, então, creio que Frank e o Amor, será uma unanimidade entre os leitores em geral.
O livro pode ser encontrado na Amazon de forma física e para Kindle. Mas dá pra comprar também direto no site da Companhia das Letras.
Se você já leu ou se decidir ler, me diga nos comentários o que achou, tá bom?
Boa Leitura!!